terça-feira, 16 de abril de 2024

Bem visto

O alfabeto foi uma tecnologia ainda mais revolucionária do que a Internet. Construiu pela primeira vez essa memória comum, expandida e ao alcance de toda a gente.

O infinito num junco, Irene Vallejo 

Eureka

Borges, que pertencia ao grupo dos que pensam da segunda forma, escreveu: «Dos diversos instrumentos do homem, o mais surpreendente é, sem dúvida, o livro. Os restantes são extensões do seu corpo. O microscópio e o telescópio são extensões da sua visão; o telefone é a extensão da voz; depois temos o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.

O infinito num junco, Irene Vallejo 

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Me too

Cresci, mas continuo a manter uma relação muito narcisista com os livros. Quando um relato me invade, quando a sua chuva de palavras penetra em mim, quando compreendo de forma quase dolorosa o que conta, quando tenho a segurança - íntima, solitária - de que o seu autor mudou a minha vida, volto a acreditar que eu, especialmente eu, sou a leitora de quem esse livro andava à procura.

O infinito num junco, Irene Vallejo 

Poesia

No seu esforço para se perpetuarem, os habitantes do mundo oral aperceberam-se de que a linguagem rítmica é mais fácil de recordar, e foi nas asas dessa descoberta que nasceu a poesia. Ao recitar versos, a melodia das palavras ajuda a repetir o texto sem alterá-lo, porque a música se quebra quando a sequência falha.

O infinito num junco, Irene Jalejo

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Tontos

Na verdade, seria preciso agradecer a existência de pessoas ambiciosas centradas na luta pelo poder; caso contrário, teríamos de ser nós a carregar esse fardo.

Alguém falou sobre nós, Irene Vallejo 

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Humberto Eco

O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não se pode fazer melhor.

Gosto muito

O arrasto que trago de sombra é um galho
postiço
não sei como o provar
mas se esta sombra fosse a minha
ensombraria
para dentro
 
 
pedro de queirós tavares

quarta-feira, 27 de março de 2024

Pequenos Desenhos

Tudo aquilo parecem desenhos,

Mas dentro das letras estão vozes. 

Cada página é uma caixa infinita de vozes.


Mia Couto, Mulheres de Cinza

Li agora

Na mitologia grega, a atenção e o cuidado dos doentes estavam encomendados às mãos femininas de duas atenciosas deusas, filhas de Asclépio, o deus da medicina: Hígia e Panaceia. A primeira tratava da limpeza e da saúde humana, por isso legou o seu nome à higiene; a segunda conhecia os medicamentos elaborados com plantas e o seu nome aplica-se aos remédios universais. A enfermaria atual, herdeira do trabalho das filhas de Asclépio, é um ofício que contém conhecimentos técnicos sobre prevenção, higiene e tratamento. Nos últimos anos, dentro da profissão, começou a reivindicar-se o valor dos "cuidados invisíveis", aqueles gestos que não ficam anotados em nenhum registo médico, que não são aparentemente clínicos, como as carícias, o sorriso ou as palavras reconfortantes, mas que, sabemo-lo hoje, têm uma grande importância na cura das nossas doenças. Essa atenção que, embora não conste, conta.


Alguém falou sobre nós, Irene Vallejo 

Abril

Abril


Era o medo

A ilusão 

Era a senha 

Na canção


Era o plano

Combinado

Era o regime

Acabado 


Era o estigma

Na penumbra

Era a esperança

Mais profunda


Era a pobreza

A desobediência 

É a pide

A indigência.


É já dia 

Alvorada

É revolta

Iniciada


É surpresa

É verdade

É certeza 

É liberdade 


É regime

Acabado 

E o povo

Foi vingado.


Foi o coração 

Combinado

Foi o abraço 

Apertado 


Foi a festa

Foi a alegria 

Foi a multidão 

Foi o dia


Foram vinte

Foram cinco

Foram mais

Não te minto


Foram beijos

Mais que mil

Foram cravos

Foi Abril.