quinta-feira, 18 de maio de 2017

Ninguém é pobre senão de espírito

"Esta ideia de punição e de criação de um estereótipo do que é um bom pobre e um mau pobre é muito preocupante. (...) Eles (pobres) para receber o apoio em géneros têm de trabalhar, geralmente na própria associação. Não podem ter problemas com álcool, droga e prostituição. O pobre tem de mostrar que quer melhorar. Não pode frequentar cafés, nem receber apoio de outras instituições. "

João Teixeira, As classes populares, Prova Oral


A propósito da opinião transcrita em cima, tendo a concordar com a teoria, mas nunca com a prática.
A divisão entre pobres bons e maus está, na minha opinião, mal formulada. A verdadeira divisão deveria estar mais perto de "pobres de espírito" e "pobres de circunstância".
Os pobres de espírito são aquela classe social portuguesa que adoptou a pobreza como profissão. A pobreza material advém da pobreza de espírito. Vivem da mendicidade, de subsídios, de esmolas, de pequenos roubos que vão surgindo aqui e ali. São aqueles que corporizam a frase: feios, porcos e maus.
Os pobres de circunstância são muito diferentes. São pessoas que tiveram problemas na sua vida, fruto das mais variadas circunstâncias, que os levaram à pobreza mas que, ajudados, querem e podem sair dela. Muitas vezes, estas pessoas nem pedem ajuda porque têm vergonha: a chamada pobreza envergonhada. 
São dois grupos muito diferentes. Separar o trigo do joio nestes dois grupos não é nada fácil. Posto isto, como é normal em Portugal, por uns pagam todos e acho muito bem que as instituições fiscalizem os apoios e ponham as pessoas a colaborar/trabalhar para o bem comum. Era o que faltava serem gastos recursos, muitas vezes públicos, para manter vícios. Além disso, estes vícios têm repercussões nas prisões, nas polícias, nos hospitais, em muitos institutos e serviços públicos. 
É um lugar comum confundir-se pobreza com porcaria, com falta de estudos, com má educação. Pobreza não é nada disso. Pobreza é um estado transitório de uma pessoa que não teve sorte com o berço, com a vida, com ambos.
Toda e qualquer pessoa com trabalho, dedicação e resiliência, no nosso país, pode sair de uma situação dessas. São inúmeros os casos de pessoas que conseguiram vingar na vida. Só que dá trabalho,... muito trabalho. 
Assim, pobreza só de espírito!

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